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Folha, 100 Cartas para o futuro

2031 pode ser melhor do que 2021, apesar de muita coisa

Ausência de um plano nacional de educação impede melhorias de longo prazo

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Fábio Takahashi
Fábio Takahashi

Editor do DeltaFolha, editoria focada em jornalismo de dados. Presidente da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação), coordena o podcast Folha na Sala.

Este texto faz parte da série Cartas para o Futuro, em que colunistas, repórteres e editores da Folha imaginam os cenários das suas respectivas áreas de atuação em 2031.

“Brasil não bate meta na educação”. “Brasil está entre os piores no ranking educacional divulgado hoje.” Essas são frases que lemos há muitos anos e não deixaremos de vê-las até 2031. Não precisa ter o dom da adivinhação para saber disso.

Melhoria na educação é algo que começa com um bom plano e passa por um bom tempo para execução. Não estamos perto de chegarmos ao sucesso nem na primeira etapa.

Qual a ideia para uma melhoria nacional? Processo centralizado para seleção e treinamento de professores, como em Singapura? Grande autonomia para escolas, professores e estudantes, como na Finlândia? Investimento pesado na primeira infância, como na Suécia? São caminhos diferentes e exitosos, dentro de inúmeros outros.

O nosso, qual é?

Aqui vínhamos num caminho até virtuoso, ainda que longe do ideal.

Num grosso resumo, os anos 1990 foram de forte aumento das matrículas e início das avaliações em larga escala (governo FHC); os anos 2000 e 2010, de tentativa de valorização salarial de professores e de incremento no processo de avaliação (governos Lula e Dilma); no fim da década de 2010, de busca por expansão do ensino integral e diversificação de possibilidades no ensino médio (governo Temer).

Uma melhoria dependeu da anterior para acontecer, ainda que que as políticas tenham aparecido mais à base da vontade do governo de ocasião do que de um plano articulado, pactuado com a sociedade.

E como cada governo impõe sua própria agenda, é difícil apontar o que funcionou e o peso das iniciativas para os avanços que ocorreram no período (especialmente na melhora discreta da qualidade de ensino).

Ilustração de lápis partido ao meio
Ainda não temos um projeto nacional de educação - Catarina Pignato

A falta de coesão deixou mais difícil que as iniciativas fossem vistas como um projeto do país, como já foi o combate à inflação, por exemplo. Sem essa coesão, as políticas se enfraquecem.

Enfraquecimento que ficou claro com a chegada do governo Bolsonaro. Foram deixados de lado o Plano Nacional de Educação (que estabeleceu metas a serem atingidas até 2024) e a Base Nacional Comum Curricular, ambas ações que haviam unido adversários políticos e teóricos à época da formulação.

Entraram no foco o combate ao suposto esquerdismo nas escolas, ampliação de escolas militares e a ideia de um novo projeto de alfabetização (Dilma teve o seu, substituído por um de Temer, e a atual gestão fala de um outro).

A falta de coesão deixou mais difícil que as iniciativas fossem vistas como um projeto do país

Fábio Takahashi

Editor do DeltaFolha


Mas não dá para colocar a situação ruim que estamos apenas na conta do governo Bolsonaro. Mesmo antes dele o projeto para melhoria era frágil.

O Plano Nacional de Educação, por exemplo. Ele foi aprovado por unanimidade no Congresso e sancionado pela então presidente Dilma, mas enfrentou resistência dentro da própria gestão petista, de sua área econômica, por aumentar fortemente os recursos para a educação (dos então 5,1% do PIB para 10%, em incrementos paulatinos).

O sucessor Temer, com uma bandeira de corte de gastos públicos, começou o processo de desidratação da política. Como ela não traz mecanismos que forcem os governos a segui-la, o plano corre o risco de cair no completo esquecimento.

Aos trancos e barrancos, porém, 2031 pode ser melhor do que 2021. Talvez vejamos com mais frequência um complemento nas frases que resumirão a situação. Algo na linha “Brasil não bate meta na educação, mas melhoria acelera”. Já seria um ganho considerável. E plausível.

Seria necessário para isso ganharem escala experiências em curso neste mesmo Brasil.

O ensino fundamental do Ceará e o avanço no ensino médio de Goiás, Espírito Santo e Pernambuco são bons exemplos.

Não que modelos educacionais de um estado caibam diretamente no outro. Mas na falta de um projeto nacional, iniciativas locais podem melhorar nossas escolas e inspirar vizinhos a acharem seus próprios caminhos. ​

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